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Jesus, demasiado humano

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Odilon Redon, Cristo in silenzio (particolare), 1897 circa, Musée du Petit Palais, Avignone, Francia
Odilon Redon, Cristo in silenzio (particolare), 1897 circa, Musée du Petit Palais, Avignone, Francia
XIV domingo do Tempo Comum, ano B, 5 julho 2015
Mc 6,1-6

Reflexão sobre o Evangelho por Enzo Bianchi

 

Naquele tempo,
Jesus dirigiu-Se à sua terra e os discípulos acompanharam-n’O.
Quando chegou o sábado, começou a ensinar na sinagoga.
Os numerosos ouvintes estavam admirados e diziam: «De onde Lhe vem tudo isto?
Que sabedoria é esta que Lhe foi dada
e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?
Não é ele o carpinteiro, Filho de Maria,
e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão?
E não estão as suas irmãs aqui entre nós?» E ficavam perplexos a seu respeito.
Jesus disse-lhes: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa».
E não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos.
Estava admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores, ensinando.

O trecho evangélico deste domingo interroga-nos, sobretudo, sobre o nosso comportamento quotidiano: comportamento que, no fundo, não anseia nada e, portanto, não espera ninguém. Comportamento que não imagina que do quotidiano, do outro que nos é familiar, daquele que conhecemos possa jorrar uma Palavra, verdadeiramente, de Deus. Não temos assim tanta confiança no outro, em particular se o conhecemos de perto; por outro lado estamos sempre prontos para acreditar no "extraordinário", em alguém que se imponha. Estamos de tal forma pouco apetrechados de fé-confiança que impedimos que os milagres aconteçam e quando acontecem não os vemos, não os reconhecemos e eles tornam-se inúteis, milagres que não atingem o seu fim.   

Esta é, no fundo, a mensagem do Evangelho hodierno, uma página que diz respeito à nossa fé, à nossa disponibilidade em crer. Jesus nasceu de uma família comum: Um pai artesão e uma mãe dona de casa como eram todas naquele tempo. A sua família tinha irmãos e irmãs, parentes, primos, uma família numerosa ligada por fortes vínculos de sangue como acontecia no oriente. Desde pequeno, como qualquer rapaz hebreu, ajudou o pai no seu ofício, brincou com Tiago, Judas e Simão, com as suas irmãs, levou uma vida banal sem nada que deixasse transparecer a sua vocação e singularidade. Depois, a determinado momento, não sabemos bem quando, começaram, o que Robert Aron chamou, “os anos obscuros de Jesus”, junto às margens do Jordão e do mar morto, onde viviam grupos e comunidades de judeus crentes à espera do dia de Deus, onde haviam homens que se dedicavam à leitura das sagradas escrituras e à oração. Jesus, a determinada altura, junta-se-lhes e torna-se discípulo de João, o Batista (que O define como “Aquele que virá depois de mim”: cf. Mc 1,7). Sente como vocação divina ser um pregador itinerante, iniciando o seu ministério a partir da Galileia, a terra para onde tinha sido levado (cf. Mc 1,14-15).

E quando já tem um grupo de discípulos que vive com Ele (cf. Mc 3,13-19), na sua pregação de terra em terra, num sábado vai à Sinagoga de Nazaré, “a sua pátria”. Volta depois de muito tempo fora e os habitantes reconhecem-no como "filho de" e "irmão de". No momento da leitura da Torah (parashah) e dos Profetas (haftarah), Jesus, sendo um hebreu, como tantos outros hebreus com mais de doze anos, depois de se ter tornado bar mitzwah, filho do mandamento, tem a possibilidade de subir ao ambão e tomar a palavra. Não é um sacerdote, não é um rabino oficialmente reconhecido – “ordenado”, diríamos nós hoje – mas exerce esse direito de ler as escrituras e fazer a homilia.

Ao contrário de Lucas (cf. Lc 4,16-30), Marcos não especifica nem os textos bíblicos que foram lidos nem o comentário que foi feito por Jesus, mas dá conta da reação da assembleia litúrgica que O escutou. A sua fama precedeu-O: volta a Nazaré como um “mestre” com traços proféticos, capaz de curar, de fazer milagres com as suas mãos. A primeira reação é de surpresa e de admiração: é um grande pregador, tem autoridade, a sua palavra toca fundo e é rica de sabedoria. Mas, diante desta incontestável verdade exige-se uma reflexão: conhecemo-Lo como um de nós, a sua família está aqui, os seus irmãos e irmãs têm nomes precisos mas, o que é que realmente pretende, o que quer? Porque deve ser "outro"? Jesus era um homem como todos os outros, apresentava-se sem nada de extraordinário, frágil como qualquer ser humano. Era um homem comum, resignado, sem nada nas suas vestes que proclamasse a sua glória e a sua função, sem nenhum “cerimonial” feito de pessoas que o acompanhassem e o tornassem solene quando aparecia no meio dos outros.

Não. Era demasiado humano! Mas se não há n'Ele nada de "extraordinário" como acolhê-Lo? Muito provavelmente, Jesus nem sequer tinha uma palavra sedutora, não tinha um comportamento para ser admirado e venerado. Era demasiado humano e, por isso, "ficavam escandalizados com Ele" (eskandalízonto en autô), isto é, sentiam no que viam, na sua humanidade quotidiana, um obstáculo para depositarem fé n'Ele e na sua Palavra. Por isso, aquele retorno à terra natal foi um falhanço. Jesus apercebe-se disso e proclama-o a alta voz: “Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa”. Isto aconteceu. Mesmo quem pretendia conhecê-Lo, como concidadão, vizinho ou parente, chega a desprezá-Lo. Marcos tinha já referido que, no início da sua pregação, os seus familiares tinham vindo para o levar de volta alegando que era louco e que estava fora de si (éxo: cf. Mc 3,21); mas agora são todos a pensar isso sobre Ele. O seu comportamento é demasiado humano, pouco sacral, pouco ritual!

Jesus começa então a curar os doentes ali presentes e põe bons alguns deles mas é como se não tivesse feito nada porque o milagre só acontece quando a testemunha passa da incredulidade à fé. Aqui, ao contrário, permaneceram todos incrédulos e, por isso, Marcos diz: “não podia ali fazer qualquer milagre” (dýnamis). Jesus ficou impotente, não podia agir com o seu poder, não podia sequer fazer o bem porque os presentes não tinham fé n'Ele. O que tinha Ele de mal? No que diz respeito aos “seus”, caminhava demasiado à frente, tinha a parrhesía, a coragem de dizer aquilo que os outros não diziam, ousava pensar o que os outros não pensavam e, no entanto, permanecia humano, tão humano.

Eis o que espera todo aquele que recebeu um dom de Deus, mesmo que seja apenas uma migalha de profecia: torna-se insuportável, e portanto é melhor não ter fé nele… Jesus “estava admirado com a falta de fé daquela gente (apistía)”, e, contudo, não desiste: prossegue a sua missão noutros lugares, pregando sempre e fazendo o bem. Mas sem receber fé-confiança, Jesus não consegue nem converter nem curar.