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Jesus no deserto, é constantemente tentado

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Rouault, Miserere II
Rouault, Miserere II
I domingo da Quaresma, ano B
Mc 1,12-15
Reflexão sobre o Evangelho por Enzo Bianchi

 

Naquele tempo, o Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto.
Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás.
Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O.
Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia
e começou a pregar o Evangelho, dizendo:
«Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus.
Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

O Evangelho deste I domingo da Quaresma é curto: quatro versículos, ainda que na realidade me concentrarei  quase exclusivamente nos primeiros dois, uma vez que já comentei os vv. 14-15 há alguns domingos (III domingo do Tempo Comum). Os vv. 12-13 são muito intensos, capazes de nos dizerem o essencial sobre as tentações de Jesus, mesmo se no nosso imaginário está impressa, e memorizada, a narração mais dramática e mais precisa dos Evangelhos segundo Mateus e Lucas (cf. Mt 4,1-11; Lc 4,1-13).

Concentremo-nos na narração de Marcos. Jesus foi batizado no rio Jordão por João, o seu Mestre, e ao sair da água viu o céu rasgar-se, o Espírito de Deus descer sobre ele com a doçura de uma pomba (cf. Mc 1,9-10) e, sobretudo, sentiu uma voz que se lhe dirigiu. Do céu, ou melhor, da morada de Deus, chegou uma voz que proclamou: “Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus todo o meu encanto” (Mc 1,11; cf. Sal 2,7; Gen 22,2; Is 42,1). É a voz do Pai que confirma o amor e a identidade do Filho amado; é a voz que o torna capaz, com a força do Espírito Santo, "companheiro inseparável de Cristo" (Basilio de Cesarea), da missão pública entre os Filhos de Israel.

Mas, mal isto tinha acontecido, “subitamente” (euthýs) o Espírito desceu sobre Ele e levou-o para onde os céus não estão abertos mas cerrados. Leva-o para o deserto onde está o diabo, Satanás, o tentador, cuja missão é dividir e separar, sobretudo de Deus. Jesus entra assim numa zona de sombra, é posto à prova, porque o deserto é terra de provação, de tentação. Tinha-o sido para Israel, "batizado" e saído das águas do mar vermelho; tinha-o sido para Moisés e para Elias; tinha-o sido para todos os que tinham ido para o deserto para preparar os caminhos do Senhor (cf. Is 40,3), combatendo como “filhos da luz” contra o demónio e as suas trevas; tinha-o sido também para João, o Batista. Jesus está, portanto, caminhando sobre o rasto deixado pelos enviados de Deus e sabe por isso que se deve preparar para aquela que será a prova, a luta quotidiana, até à morte.

Naquele deserto de Judá, ao lado do mar morto, no meio das rochas áridas, Jesus "esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás". A sua luta é corpo-a-corpo e ninguém é espetador; é uma luta através da qual se deve aprender a obediência de Filho – “aprendeu a obediência por aquilo que sofreu” (Heb 5,8), lê com inteligência o autor da carta aos Hebreus – e vencer o tentador que se opõe à vinda do Reino da forma que Deus quer e que Jesus deve assumir fazendo-o seu, até que ele mude de atitude. Marcos não nos diz nada de preciso sobre esta tentação que os outros evangelistas, numa espécie de midrash, falam como uma luta contra os três libidines do Eros, da Riqueza e do Poder. No essencial, luta contra uma manifestação mundana, prepotente e arrogante do reino.

O Evangelista mais antigo acentua o facto de Jesus ser constantemente tentado, durante quarenta dias, sem nunca ceder a uma visão triunfalista da vinda do Reino. Submetido em pleno ao Pai, criatura entre as criaturas não humanas do deserto (rochas, pedras, arbustos, répteis, insetos, bestas selvagens,...), Jesus está em profunda comunhão com toda a criação. Está no centro dela, é o verdadeiro Adão, como Deus quis, capaz de viver reconciliado e em paz com todas as criaturas e com toda a terra. Jesus aparece como um homem dócil, harmonioso, pacificado com o céu e a terra, capaz de inaugurar a era messiânica profetizada por Isaías: “...o lobo habitará com o cordeiro e o leopardo deitar-se-á ao lado do cabrito; o novilho e o leão comerão juntos ... o leão comerá palha como o boi. A criancinha brincará na toca da víbora e o menino desmamado meterá a mão na toca da serpente” (Is 11,6-8). Sim, é o Reino messiânico prometido por Deus a toda a terra que certamente está a chegar. Jesus inaugura-o no deserto e por isso, pouco depois, pode proclamar: “Cumpriu-se o tempo e o Reino está próximo”.

Mas importa recordar que esta “harmonia” e esta “paz” custam caro: o preço da kénosis, do esvaziamento e do abaixamento d'Aquele que “estava em condição Divina e se esvaziou a si mesmo (heautòn ekénosen)”, tornando-se homem e despojando-se das suas prerrogativas divinas, em vez de as guardar ciosamente para si e de as considerar um privilégio (cf. Fil 2,6-7). Mesmo nesta profunda humilhação, que é testemunho da sua tentação, verdadeira e real (não um teatrinho exemplar para nós!), Jesus faz a paz entre o céu e a terra, se bem que as criaturas do céu, os anjos, no deserto, se aproximem e O sirvam. Reconhecem-No como Deus na carne de um homem: Jesus de Nazaré, o Filho de Maria.

Jesus, amado em plenitude pelo amor do Pai que lhe fora declarado na hora do batismo e acompanhado pelo Espírito Santo, está operante como o vencedor sobre Satanás, sobre o mal, sobre a doença, sobre a morte. É o Messias que vem e que traz a vida; basta apenas segui-Lo, acolher o seu convite urgente que resume todo o Evangelho ainda agora começado: "Convertei-vos e acreditai no Evangelho!".