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A Jornada de Cafarnaum

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Pietro Paolo Rubens Cristo al banchetto, 1618-20, Hermitage San Pietroburgo.
Pietro Paolo Rubens Cristo al banchetto, 1618-20, Hermitage San Pietroburgo.
IV domingo do Tempo Comum, ano B
Mc 1,21-28
Reflexão sobre o Evangelho por Enzo Bianchi

Jesus chegou a Cafarnaum
e quando, no sábado seguinte, entrou na sinagoga
e começou a ensinar, todos se maravilhavam com a sua doutrina,
porque os ensinava com autoridade e não como os escribas.
Encontrava-se na sinagoga um homem com um espírito impuro,
que começou a gritar:
«Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno?
Vieste para nos perder?
Sei quem Tu és: o Santo de Deus».
Jesus repreendeu-o, dizendo: «Cala-te e sai desse homem».
O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele.
Ficaram todos tão admirados, que perguntavam uns aos outros: «Que vem a ser isto?
Uma nova doutrina, com tal autoridade, que até manda nos espíritos impuros e eles obedecem-Lhe!»
E logo a fama de Jesus se divulgou por toda a parte, em toda a região da Galileia.

Depois de nos ter contado o chamamento dos primeiro quatro discípulos (cf. Mc 1,16-20), Marcos sublinha que Jesus não está mais sozinho. Agora existe uma pequena comunidade que segue este Rabino que veio da Galileia, das margens do mar morto, depois da prisão do seu Mestre e Profeta João, o Batista, e que esta pequena comunidade crescerá e acompanhará Jesus, envolvendo-se na sua vida até ao fim.

O Evangelista apresenta-nos assim uma jornada tipo de Jesus e dos seus discípulos: a "jornada de Cafarnaum" (cf. Mc 1,21-34), uma cidade situada a norte do mar da Galileia, zona de passagem entre a Palestina, o Líbano e a Assíria, habitada por pessoas diversas e escolhida por Jesus como "residência", como lugar em que Ele e a sua comunidade tinham casa (cf. Mc 1,29.35, ecc.) e onde podiam descansar de vez em quando, nas pausas das suas incursões pela Galileia e pela Judeia. Mas como vivia Jesus o seu dia a dia? Ele pregava e ensinava, encontrava pessoas e libertava-as do mal, curava-as, rezava. Havia certamente tempo e espaço para comer com os seus, para estar com a sua comunidade e para ensinar-lhes como se devia viver para acolher o Reino do Deus que está a chegar.

O Evangelho fala-nos desta jornada de Jesus. É sábado, o dia do Senhor, em que o Hebreu vive o mandamento de santificar o sétimo dia (cf. Ex 20,8-11; Dt 5,12-15) e vai à Sinagoga para o culto. Também Jesus e os seus discípulos se recolhem na Sinagoga de Cafarnaum, onde, depois da leitura de um trecho da Torah de Moisés (parashà) e de uma perícope dos Profetas (haftarà), um Homem adulto podia tomar a palavra e comentar o que tinha sido proclamado. Jesus é um simples crente do povo de Israel, um leigo, não um sacerdote e usa esse direito. Sobe ao ambão e faz uma homilia, da qual Marcos não nos diz o conteúdo, ao contrário de Lucas sobre a homilia feita por Jesus na Sinagoga de Nazaré (cf. Lc 4,16-21).

Acontece, porém, aquilo que muitas vezes nos sucede a nós. Quem faz a homilia tem a capacidade de nos manter acordados e atentos, atinge-nos no mais recôndito de nós, antevê as questões que emergem dos nossos corações, faz-nos encontrar respostas verdadeiras. No fundo, Jesus mostra ter "autoridade" (exousía) inédita e rara. A sua Palavra não é igual à dos religiosos profissionais, dos muitos escribas encarregues de estudar e explicar as Sagradas Escrituras. O que tem de diferente a sua prédica? Podemos pelo menos dizer que há uma Palavra que vem do seu ser profundo, uma Palavra que parece nascer de um silêncio vivido, uma Palavra dita com convicção e paixão, uma Palavra dita por alguém que não só crê naquilo que diz como o vive. É sobretudo a coerência vivida por Jesus entre o pensar, o dizer e o viver que lhe confere uma autoridade que se impõe e é performativa. Atenção: Jesus não é um daqueles que seduz com palavras elegantes, eruditas, trabalhadas literariamente, ricas de citações culturais; não pertence à linha de pregadores que seduzem todos mas não convertem nenhum. Pelo contrário, Ele sabe como falar ao coração de cada um dos seus ouvintes, que, por seu turno, são levados a pensar que a Sua "é uma nova doutrina", sábia e profética, que agita, “fere” e convence.

Sabemo-lo bem. Todos nós desejamos encontrar um pregador assim nas nossas liturgias dominicais mas, muitas vezes, ficamos desiludidos. Por outro lado quem prega nas nossas assembleias não é o Filho de Deus feito Homem. Muitas vezes está cansado e até frustrado na sua vocação e tantas vezes forçado a repetir ritos e palavras que não lhe são mais possíveis nem de convicção, nem de paixão. Porém, eu creio que, mesmo nesta situação de pobreza, se houver um coração aberto e desejoso de escutar a Palavra de Deus, qualquer fragmento o atingirá sempre...  

A autoridade de Jesus revela-se logo a seguir num ato de libertação. Na Sinagoga está um homem atormentado por um Espírito impuro, no qual o demónio está a trabalhar. Não nos detenhamos na forma violenta com que se exprime, típica do estilo oriental, imaginativo. Vamos à substância: está ali um homem no qual o demónio age de forma muito particular, no qual a força que se opõe à de Deus ocupou um espaço significativo; nesta pessoa está um espírito impuro que se opõe ao Espírito Santo de Deus. A presença de Jesus na Sinagoga é uma ameaça para esta força demoníaca e eis senão quando a verdade é gritada: «Que tens Tu a ver connosco, Jesus Nazareno? Vieste para nos perder? Sei quem Tu és: o Santo de Deus». Mas Jesus, antes de qualquer outra coisa, intima-o a calar-se para logo depois o libertar daquela presença. O sinal da libertação é um grito: "O espírito impuro, agitando-o violentamente, soltou um forte grito e saiu dele..."

Nota-se a imposição do silêncio por parte de Jesus. O grito do endemoninhado é ortodoxo, porque Ele é o Santo de Deus, contudo, esta identidade não pode ser proclamada assim. Ao longo de todo o Evangelho de Marcos vemos esta preocupação de Jesus acerca da manifestação da sua própria identidade. Jesus não deve ser divinizado a correr, nem se deve fazê-lo por deslumbre com os seus prodígios, nem por mero entusiasmo. Poder-se-á fazê-lo apenas quando o virmos suspenso na cruz. Só então - confirma-o o Evangelho - a confissão do leitor pode ser verdadeira, feita com inteligência e conhecimento profundos, unida à do centurião que vendo Jesus na cruz exclamou: “Verdadeiramente este homem era Filho de Deus!” (Mc 15,39). O melhor comentário é uma palavra de um monge do séc. XII, Guigo I, o cartuxo: “Nua e suspensa na cruz deve ser adorada a verdade”.