Elogio da fraqueza


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TRENTO LONGARETTI, O pobre com o violino

Avvenire, 10 Julho 2011
de ENZO BIANCHI
A fraqueza pode ser, de facto, uma daquelas situações em que a força de Cristo atinge a sua plenitude, se quem a experimenta a souber viver com amor (isto é continuando a amar e a aceitar ser amado).

Avvenire, 10 luglio 2011

Como escrevia Gilbert K. Chesterton, o paradoxo atravessa a fé cristã. E assim, a fraqueza, a asthenía que nasce da doença, da deficiência, da humilhação, do sofrimento que a vida impôs, no cristianismo, se for vivida como um caminho pascal pode tornar-se um espaço em que se faz sentir a força de Deus. Isto mesmo nos diz Jesús no sermão da montanha quando afirma que são bem aventurados, felizes e capazes de andar em frente com confiança e na verdade, os pobres, os mansos, os desarmados, os perseguidos e os esfomeados (cf. Mt 5,1-12). O apóstolo Paulo na segunda Carta aos Coríntios compõe aquilo que poderia ser descrito como um hino à fraqueza: "Mas Ele respondeu-me: “Basta-te a minha graça, porque a força manifesta-se na fraqueza. De bom grado, portanto, prefiro gloriar-me nas minhas fraquezas, para que habite em mim a força de Cristo. Por isso me comprazo nas fraquezas, nas afrontas, nas necessidades, nas perseguições e nas angústias, por Cristo. Pois quando sou fraco, então é que sou forte.» (2Cor 12,9-10). Neste texto são sublinhadas duas expressões que normalmente fogem ao leitor: a força do Senhor exprime-se plenamente na fraqueza e o poder de Cristo arma a sua tenda – a Shekinah, isto é a presença de Deus – onde encontra a fraqueza do homem.

Convém contudo estar atento. Este cântico à fraqueza não é um cântico ao mal, ao sofrimento, à provação, à miséria – como Friedrich Nietzsche acusou o cristianismo – mas é uma revelação: a fraqueza pode ser, de facto, se vivida com amor (isto é, continuando a amar e a ser amado), a expressão plena do poder de Cristo. Mas, esta mensagem, central no Novo Testamento, é escandalosa e pode parecer loucura (cf. 1Cor 1,18-31) e nós cristãos, habituados a tais palavras, estamos dispostos a repeti-las mas não a vivê-las no amor. Este é o verdadeiro desafio, porque a fraqueza é fundadora da antropologia cristã.

Mas, digamos com honestidade: quando observamos a vida no seu desenrolar quotidiano, quando tentamos ler a história e as histórias, constatamos que são o poder, a força, a arrogância, a violência que têm sucesso e por isso torna-se difícil ver na fraqueza uma possível bem aventurança. Somos capazes de acolher a nossa fraqueza, que se nos apresenta, tantas vezes, como humilhação? Estamos dispostos a ver nela uma ocasião de privação para sermos conduzidos à «única coisa necessária» (Lc 10,42)? Não apenas individualmente, mas como comunidade, como Igreja, somos capazes de ler na fraqueza a linguagem da «discreta caritas», do amor discreto que é vivido quotidianamente sem levantar a voz, sem querer "dar testemunho" a nós próprios?

Talvez apenas quando deixamos de falar de pobres, de deficientes, mas estamos de fronte a um homem ou a uma mulher em cadeira de rodas, a uma pessoa incapaz de usar as formas habituais de comunicação; quando nos encontramos diante de um corpo ferido e atingido pela doença e pela dor; quando apertamos as mãos de um pobre que as estendeu, metendo as suas nas nossas; talvez só então compreendemos o drama da fraqueza e somos capazes de discernir onde Cristo armou a sua tenda.

Existe ainda uma outra forma de fraqueza, que não pode ser esquecida: a da humilhação que nasce do nosso pecado, às vezes do nosso vício ou pecado reincidido em que caímos e depois nos levantamos...Somos humilhados diante de Deus e dos homens, também nisto seja como indivíduos cristãos, seja como Igreja. «Foi bom para mim ter sido fraco» (Sal 119,71), reza o salmista diante de Deus, mas é útil também para a Igreja ser humilhada, conhecer dias de não-sucesso, de esterilidade, de impotência entre os poderes deste mundo, às vezes mesmo de insignificância. Não foi este o percurso de Jesús na última parte do seu ministério, depois dos sucessos e do acolhimento iniciais? Sim, devemos novamente confessá-lo: é fácil dizê-lo, é difícil aceitá-lo e sobretudo vivê-lo, sem trair o amor.

São Bernardo, aquele que conheceu, talvez, o maior sucesso possível para um monge, na história, experimentou horas de humilhação, de fragilidade e de miséria também existencial. Foi, admitido pelo próprio, uma crise espiritual e moral que o obrigou a viver durante um ano fora do seu mosteiro. Naquele período compreendeu muitas coisas da vida cristã que não tinha compreendido primeiro; compreendeu sobretudo que na fraqueza aprende-se melhor a relação com os outros e com Deus e conhece-se o que é verdadeiramente a graça, a misericórdia de Deus. E assim exclamou: «Optanda infirmitas!», «Ó desejável fraqueza!» (Discursos sobre o Cântico dos Cânticos 25,7). Sim, é possível afirmar isto, sabendo contudo que, no ofício de viver, a fraqueza aparece sempre como prova, como prova exigente.

ENZO BIANCHI